sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Efemérides Académicas (14)

19 de Abril de 1839: À noite representaram os estudantes desta vila uma tragédia em 5 actos, a qual foi de graça. O entremez, obsceno em demasia, não era próprio para se representar no teatro duma vila como esta, em que ainda há muita gente que olha com respeito para a boa moral. Mas que era de esperar do seu director e ensaiador o Tomás das Hortas! PL.

17 de Junho de 1839: Em benefício de um egresso, filho do Pedro da Rua de Couros, ao qual faltavam meios para se ordenar, levaram os estudantes à cena uma tragédia em 5 actos, intitulada "Júlio ou o Assassino". PL.

18 de Novembro 1841: Toma posse da regência da cadeira de latim, desta cidade, em que fora nomeado por provisão do conselho geral director, de 15 de Outubro deste ano, Francisco Pedro da Costa Rocha Viana "o Venâncio" (nome de seu avô), natural de Viana.

29 de Novembro de 1842: "Pelas 8 horas da noite, indo os Estudantes desta vila a içar a Bandeira na Praça do Toural (era um pinheiro muito grande) conforme o costume, por haverem de principiar no dia seguinte as Novenas de N. Sra. da Conceição, caiu o Pinheiro e matou logo um rapaz enteado, de um pedreiro Gago de Trás-o-Muro, o qual tinha 10 anos, pouco mais, ou menos, e o qual estava vendo levantar a Bandeira. Logo que houve este infeliz acontecimento, retiraram-se todos os Estudantes e mais circunstâncias, levando consigo a dor e a consternação, e cessando desde então todos os sinais de regozijo que costuma haver em tais ocasiões, ficando na Praça só o cadáver da infeliz vitima para ser levantado pela Justiça no dia seguinte". P. L. NB o rapaz era aprendiz de alfaiate, chamava-se António da Silva Guimarães, o seu padrasto era o Leite pedreiro e gago, e era irmão do José Leite da Cruz que foi alfaiate no Pita e criado no Lixa da Porta da Vila.

30 de Novembro de 1842: "Depois de ter sido levantado pela justiça o cadáver do infeliz rapaz, que tinha sido vítima na Praça do Toural na noite antecedente, foi conduzido para S. Domingos para aí ser vestido e para ser dado à sepultura na tarde deste mesmo dia como os Estudantes haviam destinado, sendo pelas 3 horas da tarde acompanhado pela Irmandade de S. Nicolau e muitos padres, indo a pegar ao caixão 4 irmãos de S. Nicolau. O seu cadáver foi conduzido para a igreja dos Capuchos aonde foi depositado e sepultado, tendo um responso de música. O acompanhamento foi grande, e o povo que concorreu este acto foi imenso, e ainda seria maior senão fosse a muita chuva. Toda a despesa foi feita à custa dos Estudantes." P. L.

6 de Dezembro de 1842: "Saíram mascarados o Maneta (era Manuel de Matos Costa), da rua de Coiros, e o Abade, filho do Joaquim Peixoto, não sendo considerados já como Estudantes, por cujo motivo, foram uns poucos de Estudantes, dos mais taludos que andavam em uma exibição, em procura deles, e encontrando-se na Praça da Senhora da Oliveira, a querendo-lhe tirar as mascaras, puxou por um punhal o Maneta para eles, de que lhe resultou o darem uma tosa, tirando-lhe a mascara, e sendo informado o administrador do concelho deste acontecimento, mandou prender por duas escoltas de infantaria nº 14 os Máscaras Estudantes, que tinham maltratado o tal Maneta, as quais escoltas tendo chegado a Santa Clara onde estavam os Estudantes, o Povo entrou a dizer = fora a tropa = e vendo os soldados que não tinham partido contra o Povo deixaram fugir os Estudantes. Por causa desta desordem andaram a rondar escoltas do 14, e policia, e o administrador e todos os seus empregados. À noite saíram os Estudantes com cavalhadas, recitando quadras, sendo este ano o primeiro que saíram com este divertimento" P.L.

[in Efemérides Vimaranenses, de João Lopes de Faria. Manuscrito da SMS.]

Mais efemérides: aqui


quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Memórias de um Nicolino

Escrevo com todo o prazer para o vosso blog sobre as Nicolinas, festas que desde pequeno sempre adorei.A minha imagem mais remota ligada às Nicolinas, teria eu quatro ou cinco anos,era uma caixa que aparecia lá por casa pela mão do meu irmão, mais velho que eu catorze anos, Nicolino priveligiado e protegido da veneranda Sra.Aninhas, e que eu desancava se calhar melhor que alguns tocadores crescidos que por aí vejo.

Passada esta memoria pré-histórica o que me parece importante lembrar aqui e que recordo com saudade era a lição de democracia dada pelos Nicolinos da minha época, segunda metade da decada de cinquenta e princípios dos anos sessenta, na eleição das comissões das festas. Posto a posto ou tacho a tacho os candidatos iam-se perfilando nas escadas do Jardim do Carmo e democraticamente eram votados e eleitos. Não havia campanhas nem jogos sujos de bastidores e tavez se tenha começado a despontar aí a vontade de participar também noutros actos que na altura eram vedados aos cidadãos dessa época.

Lembram-me também, durante a preparação das festas, as manobras que eram usadas para "fintar o homem da censura" ao fazermos alguns escritos mais fortes para passarem os que queríamos de facto. Era engraçado quando passava uma mais atrevida a alegria que sentíamos por poder meter aquela acha na fogueira. Agora pode-se dizer o que se quer de modo que o gozo, chamemos-lhe, não é tão profundo.

Passando-me agora mais para tempos actuais é sempre com grande alegria, para um Velho Velho Nicolino ver as gerações actuais, mais pontapé menos canelada, continuarem a manter a tradição que receberam e certamente passarão ás gerações vindouras. Têm também um Monumento Nicolino que homenageia as gerações passadas mas também lembra as responsabilidades futuras.

Não é fácil preservar uma tradição com três séculos e meio mas tenho a certeza que os vimaranenses irão sempre apoiar os seus estudantes para que a mantenham pois é seguramente uma importante mais-valia no rico património que a nossa terra tem.

VIVA S. NICOLAU


Os meus cumprimentos
José Maria Magalhães

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Efemérides Académicas (13)

23 de Novembro de 1837: São aprovados e assinados por 39 estudantes os Estatutos " Associação Escholastica Vimaranense", contendo as regalias que gozava o estudante.

13 de Junho de 1838: À noite, os estudantes de Guimarães representaram, na casa do Teatro, uma peça intitulada "Trinta Anos, ou a vida de um Jogador", a qual desempenharam sofrivelmente. A entrada foi grátis. PL.

30 de Julho de 1838: Representaram alguns estudantes desta vila, na casa da comédia da mesma, uma peça intitulada "A Disciplina Militar das Tropas do Norte", a qual foi desempenhada sofrivelmente. tempo se tinha organizado, só para o fim de promover estes divertimentos. PL

13 de Setembro de 1838: Decreto nomeando José Cândido de Sá Pereira, para professor proprietário da cadeira de latim desta vila. O mesmo, por decreto de 25 de Setembro de 1838 é nomeado para cadeira de latim de Barcelos e declarado sem efeito aquele decreto que o nomeou para Guimarães.

21 de Novembro de 1838: A Relação do Porto proferiu acórdão dando provimento ao recurso do Cabido contra os coreiros e estudantes, e, julgando inepto o Libelo e improcedente a acção, reformaram a sentença e condenaram os apelados nas custas. Era sobre a posse das maçãs, castanhas, etc., do dia de S. Nicolau. - Vide amanhã 22-XI-1838.

22 de Novembro de 1838: Foram alguns estudantes da vila à Colegiada da mesma, e procuraram o cónego Baptista (João Baptista Gonçalves Sampaio) para o insultar, por lhe ter sido anulado pela Ralação do Porto, o processo de uma demanda que os mesmos estudantes traziam com o cabido, acerca da renda de Santo Estêvão, que se costumava a pagar em dia de S. Nicolau. PL. - No O cónego escapou-se-lhes refugiando-se num andaime das desastradas obras que então andavam na igreja sob sua direcção. Os estudantes procediam assim por no dia antecedente lhes ter sido anulado na Relação do Porto, em virtude de influências dele, o referido processo ganho no ano anterior. Na correspondência da administração do concelho diz: que a 22 e 23 os estudantes praticaram um escandaloso facto na igreja e claustros da Colegiada. - Vid. O jornal "Independente" nº 209.

23 de Novembro de 1838: “Requisitou o administrador do concelho desta vila ao coronel do nº 18 alguma força, a qual foi posta debaixo da casa da câmara, dando patrulhas, que patrulhavam toda a vila. Esta medida foi tomada em consequência dos estudantes quererem insultar o cónego Baptista, vendo-se este na necessidade de se retirar da vila.” P. L.

[in Efemérides Vimaranenses, de João Lopes de Faria. Manuscrito da SMS.]

Mais efemérides: aqui


domingo, 9 de novembro de 2008

Efemérides Académicas (12)

23 de Fevereiro de 1835: À noite os estudantes representam no teatro de Vila Pouca a tragédia "Othelo" sendo o desempenho sofrível e a concorrência grande. A 1 de Março repetiu-se por curiosos. P. L. - (Os curiosos seriam os mesmos estudantes? J. L.F)

14 de Novembro de 1835: A requerimento dos meninos coreiros e dos estudantes, é citado judicialmente o cabido para um libelo de força nova espoliativa e turbativa, e para todos os termos até final, pena de revelia, sobre o mesmo cabido lhes negar a posse ou renda em dia de S. Nicolau do ano anterior, que foi o 1º depois da extinção dos dízimos.

18 de Novembro de 1835: O Cabido é citado nas pessoas do arcipreste Pedro Machado de Melo Araújo e dos cónegos Manuel de Barros Pereira da Silva, António de Freitas Costa e Joaquim Vaz Vieira de Melo Alvim, por um oficial de diligências, o qual declarou que os mais cónegos não quiseram assinar dizendo não ser com eles mas sim com o seu rendeiro de Sto. Estêvão de Urgeses, para um libelo de força nova espoliativa e turbativa que lhe moviam os coreiros e os estudantes por não terem recebido em dia de S. Nicolau do ano anterior a costumeira ou renda das maçãs, etc.

4 de Abril de 1836: Foi festejado o aniversário da rainha. À aurora, meio-dia e à noite houve girândolas de foguetes e repiques de sinos. À noite toda a vila esteve iluminada. A Sociedade Patriótica reuniu-se no palacete do Toural, todos os sócios e muitos convidados, e aí em uma das salas esteve o busto de S. M. debaixo de um docel e cercado de luzes e flores; serviram-se chá, licores, vinhos, doces e fiambres; recitaram-se poesias e na sala imediata houve vários quartetos de música em que se distinguiram 3 sócios: Agostinho Vicente, juiz de direito de Fafe, João Barroso Pereira e padre João de Azevedo Varela, tocando um hino feito por este compositor. Na fachada do edifício estava uma brilhante iluminação onde aparecia o retrato de S. M., e alternadamente tocava uma banda de música, com outra que em frente se achava, sendo esta paga por uma reunião patriótica de estudantes que, para mostra a sua satisfação, levantaram ao lado do palacete um templo onde se via a estátua da Constituição e de onde se recitaram várias peças poéticas, com o maior entusiasmo. Na praça foi grande a concorrência de damas e de povo, reinando sempre o maior sossego e civilidade em todos. António do Couto Ribeiro, não acedeu ao pedido que a Sociedade Patriótica lhe fez de uma sala da sua casa, da Rua Sapateira, para esta festa, que também já lha não havia emprestado para as suas sessões, pelo que o "Artilheiro" dá-lhe uma tremenda sova, chamando-lhe miguelista, etc. "Artilheiro".

20 de Abril de 1836: Houve na igreja de S. Pedro um solene Te Deum pela chegada e consórcio do príncipe D. Fernando com a rainha D. Maria II, "ao qual assistiu a Câmara, Cabido, clero, ordens 3ªs, irmandades e pessoas de muitas classes diferentes". No fim o S. Santíssimo Sacramento em procissão pelas Lages, Rua Travessa, Rua de S. Domingos, e tornou-se a recolher, indo na procissão todas as corporações acima ditas com tochas acesas e uma imensidade de cidadãos também com tochas. As autoridades também assistiram a este religioso acto. À noite representaram vários estudantes uma comédia no teatro do Campo da Feira. A despesa do Te Deum e do teatro foi à custa da Câmara. A entrada no teatro foi de graça. PL.

28 de Abril de 1836: À noite repetiram os estudantes a comédia representada por ocasião das festas pela chegada do príncipe. Esta comédia foi em benefício das freiras Capuchas. PL.

11 de Abril de 1837: Não querendo, o advogado dr. António Leite de Castro e o procurador Luís Machado Gonçalves, continuar com o mandato do Cabido na causa que trazia com os coreiros e estudantes sobre a posse das maças, castanhas, etc., do S. Nicolau, o Cabido fez intimá-los neste dia para, sob pena de suspensão, continuarem no patrocínio da causa.

28 de Abril de 1837: Foi remetido para a Relação do Porto, a fim de continuar por apelação, o processo em que eram autores os estudantes e os coreiro e réu o Cabido, sobre as maças, etc, do S. Nicolau.

12 de Maio de 1837: Logo depois de Trindades indo a recolher-se na para sua casa o cónego João Baptista Sampaio, foi espancado, na Ponte do Campo da Feira, por 3 indivíduos, ficando muito mal tratado, a ponto de o levarem para casa nos braços. PL. Isto, disseram que foram os estudantes, por ele ser o pior dos cónegos contra eles na demanda que traziam contra o Cabido em não lhes querer pagar a “renda” do S. Nicolau. Também vi uma notícia, não sei quem a deu, nem onde: “Foi espancado o cónego António José Dias Pinheiro por causa da demanda com os estudantes sobre as maçãs, etc., do S. Nicolau”. O P.L. não diz deste. Só daquele, seria verdade? J.L. de F.

[in Efemérides Vimaranenses, de João Lopes de Faria. Manuscrito da SMS.]

Mais efemérides: aqui


sábado, 8 de novembro de 2008

O Futuro das Nicolinas: Investigação Histórica

continuação deste artigo.


3 – COMPONENTE DE INVESTIGAÇÃO HISTÓRICO-CIENTÍFICA


Esta terceira vertente é aquela de que, em minha opinião, mais estão as Nicolinas carecidas no sentido da sua credibilização científica.

Estas máximas de tradição académica mais antiga do Mundo, das origens no século XIV (teorias que eu próprio difundo com total consciência do seu reduzido grau de certeza ou confirmação documental), das ligações do São Nicolau a Guimarães, são tudo teorias muito respeitáveis, provindas de não menos respeitáveis historiadores ou investigadores ao jeito free lancer, que vêm esta festa com a mesma paixão com que eu e muitos de nós a vemos.

Era muito importante que as origens das Nicolinas, que os seus documentos, a sua bibliografia, pudesse ser vista por mais olhos, pudesse ser estudada por desinteressados na causa, pudesse em suma ser objecto de estudos históricos e científicos vários que credibilizassem as nossas bandeiras, em termos de antiguidade e de originalidade.

E não se pode dizer que se trate de uma festa sem documentos, os Pregões de S.Nicolau, brilhantemente compilados pela AAELG, mais o riquíssimo espólio dessa instituição, são certamente a matéria-prima para que muitos estudos e investigações possam ser feitos.

Claro está que, nesta componente, a edilidade assume um papel central.
Porque estamos a falar de objectivos que carecem já da disponibilização de muitos meios, designadamente económicos, tendentes a atrair quem investigue ou a conferir meios a quem esteja já disponível a proceder a tal investigação.

O patrocínio de estudo pelo Município era certamente uma estratégia acertada neste sentido.
Como o seria, no âmbito da participação municipal na novel Fundação Martins Sarmento, a dotação de meios e instrumentos àquela fundação que permitam que este seja um dos objectivos centrais, em termos de investigação, do trabalho a desenvolver naquela importantíssima instituição vimaranense

Mas uma coisa é certa. No âmbito de eventual candidatura a Património Imaterial da Humanidade, é imperioso que mais estudos históricos, científicos, étnicos e sociológicos em torno das Festas Nicolinas, da antiguidade das suas origens, na verdadeira origem dos seus tão peculiares e únicos números, etc., é imperioso dizia que tais estudos apareçam, que mais historiadores se empenhem na sua investigação.

Termino dizendo que, ao falar do futuro das Festas Nicolinas, intencionalmente deixei de parte um tema que é possivelmente parte inseparável desse futuro. Refiro-me naturalmente à eventual candidatura a Património Imaterial da Humanidade.

Fi-lo porque, conhecendo de dentro o processo por força das minhas funções na Assembleia Municipal, na fase em que ele agora está (no âmbito de Comissão Especializada), conheço agora melhor a distância a que ainda podemos estar de sequer essa candidatura poder vir a ser proposta pelo Estado Português à UNESCO (o que só pode suceder por uma vez em cada triénio).

E conheço ainda melhor os pressupostos na classificação, quais sejam, essencialmente, a necessidade de salvaguarda de uma tradição, isto é, tal catálogo direcciona-se para a disponibilização de meios que visem auxiliar a salvaguarda de tradições em deterioração, o que não é manifestamente o nosso caso. Sendo ainda que, pergunto-me, quem estará habilitado, formal e profissionalmente, para gerir esses meios que possam vir a ser disponibilizados? Estaremos nós preparados, antes de uma qualquer organização institucional como aquela que previamente referi, para gerir meios e recursos eventualmente disponibilizados pela UNESCO. Creio claramente que não, razão pela qual, para além das dificuldades inerentes à própria classificação ainda temos que nos debater com as que nos são endógenas e solucioná-las, para podermos estar preparados para um tal classificação.

Classificação que, como prémio e distinção (e não em face da necessidade de salvaguarda), todos ansiamos, porque merecida, sobre tudo para Guimarães que com dois patrimónios da humanidade nem saberia para onde se virar com o chamariz de atenções internacionais que isso colocaria na nossa cidade.

André Coelho Lima

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Novenas da Conceição

O erudito Abade de Tagilde no seu livro Guimarães e Santa Maria, dá-nos cópia de uma escritura de 1513, pela qual os padres coreiros da Colegiada tomaram o encargo de celebrar um acto religioso nesta ermida, instituído por um cónego. Mais tarde, surge a instituição de uma irmandade a N. Sra. da Conceição que, por outro documento de 1738, se vê contar no seu seio alguns cónegos e estudantes.
Extraio de uma escritura:

«Custodio Vieira, estudante da Caldeiroa, não deu esmola, por quanto é deligente em tocar o realego.»

Tocava este estudante um realejo em acto de culto que não se menciona, mas se deixa adivinhar tratar-se de novenas à Senhora da Conceição.
Por estas efemérides históricas e ainda porque a ermida da Conceição estava na jurisdição da Colegiada, é de supor que os «meninos de coro» da mesma comunidade ali acompanhassem os padres coreiros como seus coadjuvantes.
Ora, estes «meninos de coro» que pertenciam ao foro académico pelo facto de cursarem na mesma Colegiada as aulas de gramática latina, com os estudantes acamaradavam, não só neste acto de culto como em toda a função Nicolina.


in A. L. de Carvalho,
O "S. Nicolau". Tradições Académicas de Guimarães.,
Liceu Martins Sarmento, 1943.

O Futuro das Nicolinas: Organização Insititucional

... continuação deste artigo.

B. O futuro da orgânica inter-institucional: o projecto «Academia Nicolina»


Na orgânica institucional das Nicolinas, faltou referir a principal instituição que é a Comissão de Festas Nicolinas. A Comissão de Festas faz residir em si toda a tradição nicolina de séculos, carrega nos ombros a responsabilidade da prossecução dessas tradições e trata-se portanto do órgão em torno do qual giram todas as restantes instituições. Até porque, é o órgão executivo das Festas Nicolinas, sendo curiosamente (e forçosamente) integrado por alunos do ensino secundário, logo, com idades compreendidas entre os 16 e os 20 anos de idade.

Apesar de toda a sua importância no passado e futuro das Nicolinas e apesar de esta ser porventura a mais especial de todas as comissões de festas que existem por esse País fora, não deixa de ser verdade que, aos olhos da lei, a Comissão de Festas Nicolinas é exactamente igual à Comissão de Festas de São Brás, ou à Comissão das Festas em honra de São Jorge, entre muitas outras.

Ou seja, integra-se na definição do artigo 199º do Código Civil que sob a epígrafe «Comissões Especiais» nos diz que “As comissões constituídas para realizar qualquer plano de socorro ou beneficiência, ou promover a execução de obras públicas, monumentos, festivais, exposições, festejos e actos semelhantes, se não pedirem o reconhecimento da personalidade da associação ou não a obtiverem, ficam sujeitas, na falta de lei em contrário, às disposições subsequentes.”, disposições que, em traços gerais, estabelecem as responsabilidades dos organizadores e a aplicação a dar aos bens.

Daqui resulta não poder a Comissão de Festas, enquanto tal, ter personalidade jurídica equivalente à das associações, o que limita de forma grave qualquer intervenção em sede de investimento, ou seja, qualquer intervenção de médio/longo-prazo em prol das Festas.

O que aliás se pode questionar se é mesmo desejável, isto é, se se ultrapassar esta dificuldade meramente jurídica, faria sentido os jovens estudantes terem a seu cargo a organização da festa Nicolina, assim se considerando a sua continuidade ao longo dos anos? Terão eles capacidade e até apetência para isso? Não estaríamos até, nessa eventualidade, a profissionalizar demasiadamente a Comissão de Festas, órgão que deve ser protegido na sua independência e libertado para o folguedo, a todos os títulos?

E este é ainda um problema que configura uma espécie de pescadinha de rabo na boca, ou seja, é um problema que se manifesta numa dúplice e contraditória vertente: por um lado porquanto, juridicamente, está a Comissão impedida de praticar determinados actos (ex: registo de marca ou similares), por outro lado, na medida em que é esta e apenas esta quem tem a legitimidade Histórica e fáctica para o poder fazer, são eles quem organiza a festa.

Ora este imbróglio jurídico e prático tem que ter solução.

É urgente que alguém possa legitimamente actuar em nome das Nicolinas e não apenas fundado em legitimidades porventura não reconhecidas pela generalidade. É de facto urgente que um acto absolutamente próprio como um registo de marca, seja feito por uma entidade cuja legitimidade Histórica e jurídica não possa ser colocada em causa por ninguém, entidade que aliás, retire dos jovens estudantes integrantes da Comissão o peso da gestão das Festas Nicolinas, para além naturalmente daquilo que sempre foi por eles organizado e deve continuar a ser. Mas todos temos que reconhecer que os desafios dos dias de hoje, as novas solicitações (marca, sites, imagem, etc.), e até a eventual classificação como Património da Humanidade exigem que exista uma instituição que represente todas as instituições, que exista um instituição que congregue todas as instituições nicolinas, que seja por todas reconhecida, que exista uma instituição que retire dos jovens estudantes esse peso institucional, que possa então sim, dotada das necessárias legitimidade Histórica e jurídica, intervir em defesa das Festas Nicolinas e traçar projectos e objectivos de médio/longo-prazo.


A criação dessa instituição é, aliás, razão fundadora da Associação de Comissões de Festas Nicolinas.

A ACFN surgiu, precisamente, no final do primeiro dia de trabalhos da I Convenção Nicolina. E surgiu porque um grupo de velhos nicolinos, integrantes das Comissões dos últimos anos, entenderam apresentar na altura, naquela Convenção, um projecto que designaram de «Academia Nicolina», e que, independentemente dos seus contornos específicos, pretendia revolucionar o diálogo inter-institucional e apresentava-se como uma forma de solucionar o dilema representativo. Orgulho-me naturalmente de, conjuntamente com o Rui Teixeira e Melo e o Paulo Saraiva Gonçalves, termos elaborado esse projecto e os seus estatutos, que creio mantém toda a actualidade, como ideia, como projecto.

E aliás, o recente acto de registo de marca pela associação Tertúlia Nicolina vem demonstrar a urgência desta definição. Independentemente da boa vontade do acto, facto é que deveria ser impensável que uma qualquer associação (qualquer que seja) pudesse registar uma marca que é das Nicolinas, que é de todos. Isso apenas acontece porque, objectivamente, não há quem possa fazê-lo, ou melhor, todos podem, só a Comissão não pode.

O que levanta muitas questões em torno da legitimidade de tais actos, que deveriam – todos o reconhecem – ser praticados por uma entidade à qual todos reconhecessem essa legitimidade.

Essa entidade, aparte designações, é a «Academia Nicolina».

Uma entidade que congregue as instituições numa assembleia-geral com representatividades predefinidas e que possua um órgão executivo que a torne ágil e permita criar uma plataforma, por exemplo, de contacto com a UNESCO se vier a ser caso disso, na eventual candidatura das Nicolinas a Património da Humanidade.

André Coelho Lima

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Efemérides Académicas (11)

16 de Outubro de 1828: À noite há comédia no teatro pelos estudantes, em comemoração da chegada a Portugal, do sr. infante D. Miguel. PL.

26 de Outubro de 1828: (Continuação, ou apêndice) Na parada: À frente da tropa veio colocar-se o carro com a Real Efígie, junto à qual ficaram em pé a fazer-lhe a corte os sobreditos Príncipe, 2 viscondes, magistrados, vereadores e mais pessoas do governo da vila. Quando o carro recolheu no Paço Municipal, a tropa formada em coluna repetiu os vivas que já havia dado no Campo, levantados pelo Coronel das milícias comandante da birgda, e feitas as devidas continências à R. Efígie e ao Príncipe, todos se retiraram. À noite, os estudantes representaram no teatro, cujos camarotes estavam muito ornados, um Elogio Dramático - "O Amar do Rei e da Pátria", que apenas o entusiasmo pode ouvir, sem interrompê-lo nos últimos versos com ardentes vivas, em correspondência aos que levantara o princípe, apenas se descobrira o retrato de El-rei. Seguiu-se a Memória e Trágica representação dos trabalhadores sofridos na conquista de Jerusalém pelos Cruzados e por Guido Luzignan, seu chefe, a tragédia "Zaira". Terminou o espectáculo, e já no dia seguinte, com a farsa "Falhado está o bocado para quem o há-de comer". Todo este espectáculo foi repetido pelos mesmos actores curiosos e com a mesma assistência em 10 de Novembro. Do "Correio do Porto".

5 de Dezembro de 1828: Neste dia e no seguinte saíram mascarados os estudantes como nos tempos remotos costumavam andar, deixando alguns anos de andar por lhe vedar alguns ministros. P.L.

14 de Agosto de 1832: Principia nesta vila o alistamento para a fundação de uma guarda urbana, composta de escreventes, estudantes, etc. O alistamento foi em casa do corregedor e ele quem promoveu a sua organização. PL

6 de Dezembro de 1832: Os estudantes não saíram mascarados como o costume, somente foram à renda e depois recolheram a suas casas por assim o haver ordenado o corregedor. Na véspera saiu o pregão levando os estudantes as caras pintadas e outras coisas que pouca diferença faziam de máscaras; no dia nem isso lhe consentiu. P.L.

6 de Dezembro de 1833: "Não saíram mascarados os estudantes como era seu antigo costume, tendo saído na véspera dia do pregão, em razão de uma queixa que dos estudantes fizeram ao General da província, oficiando este ao Corregedor para não consentir que saíssem mascaras neste dia. Os estudantes foram sem máscara e com os seus vestidos ordinários à renda". P.L. Foi a última vez que o Cabido satisfez aos coreiros e estudantes a costumeira (renda) de lhes dar: duas rasas de castanhas assadas, 2 almudes de vinho, 2 centos de maçãs, meia rasa de nozes, meia dita de tremoços e duas dúzias de molhos de palha paínça. Não mais lha deu, julgou-se desobrigado, por entender que estava compreendida nos dízimos, e estes haverem terminado porém foi-lhe posta uma demanda pelos estudantes, em número de 20 e por 3 meninos coreiros. - vide. NB. Para os coreiros assinarem o requerimento para a referida demanda com o cabido, os estudantes mandaram anonimamente por um carrejão convidá-los (ao engano) em certo dia, para a estalagem do Peixe, que era próxima à rua Caldeiroa, a fim de conduzirem na tarde desse dia 1 anjinho para a igreja de S. Sebastião. Eles foram vestidos coralmente para a estalagem, onde estava um caixão com 4 castiçais e suas velas a arder, cheio de doces e com vinho. Os estudantes fecharam-nos e, obrigando-os a assinar, deram-lhe os doces, &ª e pagaram a cada um a espórtula que costumavam receber. J. L. de F.

[in Efemérides Vimaranenses, de João Lopes de Faria. Manuscrito da SMS.]

Mais efemérides: aqui

terça-feira, 4 de novembro de 2008

O Futuro das Nicolinas: Organização Institucional


... continuação deste artigo.


A. A realidade institucional


As Festas Nicolinas têm um problema institucional por resolver e que necessita de resolução formal imediata. Problema causado não pela quantidade de instituições que sobre elas intervêm, mas essencialmente, por um impedimento jurídico que esbarra num legado Histórico.

Mas antes disso, convém perceber qual a realidade institucional das Nicolinas, previamente a se poder saber que passos podem ou devem ser dados em seguida.

O início material das Festas Nicolinas (o documentalmente demonstrável) situa-se no sec. XVII essencialmente devido a dois actos ditos fundadores das Nicolinas, ambos atribuídos à sua mais antiga instituição: a Irmandade de São Nicolau. Esses dois actos são a construção da Capela de São Nicolau (1664) e a publicação dos estatutos da Irmandade de São Nicolau (1691). Claro está que muitos, entre os quais me incluo, defendem que a circunstância de a Capela ter sido construída em 1664 demonstra inequivocamente a existência de um culto festivo académico bem anterior à data em que a capela pôde ser inaugurada, de tal modo que essa celebração se veio a materializar na construção do primeiro monumento nicolino, naquele distante ano de 1664.

No entanto, no que a esta conversa interessa, estávamos no domínio da mais antiga de todas as instituições nicolinas, estávamos perante o início formal das Festas Nicolinas onde sobressai a sua vertente religiosa (muito cara aos contribuintes deste blogue). Por isso a Irmandade de São Nicolau, muito embora a sua actividade actual se circunscreva à organização da missa anual em honra ao Santo (no domingo mais próximo do dia de São Nicolau – 6 de Dezembro) tem nos seus ombros a responsabilidade fundadora das Festas Nicolinas. Muito embora subsista hoje, quase exclusivamente, como a guardiã da vertente religiosa das festas.

Já em meados do século passado (1961), fundou-se a Associação dos Antigos Estudantes do Liceu de Guimarães.


Apesar da sua designação alusiva a uma “mera” associação de antigos alunos, facto é que «a Associação» desde o seu início que se constituiu, quase exclusivamente, em torno e por causa das Festas Nicolinas. Entre os seus fundadores estiveram os fortes impulsionadores da “restauração” da festa nicolina em 1895, que desde essa data foram responsáveis pela continuidade do festejo, tendo, apenas em 1961, formalizado a constituição de uma instituição, que é justo dizê-lo, já existia ainda que desmaterializada, desde 1895. Essa é a principal importância da «Associação», independentemente da data da sua efectiva fundação, a ela e aos seus membros fundadores se deve o ressurgimento das Festas Nicolinas após 12 anos de paragem, bem como a sua continuação nos moldes tradicionais desde então até aos nossos dias.

Como dizia o ilustre vimaranense António Faria Martins em texto que pode ser lido no sítio da «Associação» (www.aaelg-velhosnicolinos.net), “E assim chegamos ao ano de 1960 e, com ele, à última obrigação. Foi então que alguém se lembrou de propor na ceia desse ano a criação duma colectividade com personalidade jurídica, que congregasse todos os antigos alunos do nosso velho Liceu. Aprovada a proposta, logo se nomeou comissão para proceder às necessárias diligências que concretizassem uma ideia que andava no subconsciente de todos: A Associação dos Antigos Estudantes do Liceu de Guimarães, que viu os seus Estatutos aprovados por despacho ministerial de 17 de Julho de 1961. “O que não foi” criou corpo porque alma já a tinha. E há muito!”.

Hoje em dia assumiu a mais completa e mais correcta designação de Associação dos Antigos Estudantes do Liceu de Guimarães / Velhos Nicolinos.

Por último e em finais do século passado, em 1995, foi criada a Associação de Comissões de Festas Nicolinas, que surgiu na sequência de uma nova realidade que ia ganhando corpo nas últimas décadas do sec.XX, a particular e até em certos termos “secreta” vivência da Comissão de Festas Nicolinas e o crescer da sua importância na efectiva organização dos festejos.

Foi essa nova vivência da Comissão de Festas, mais participada, que fez com que se sentisse a necessidade de agregar numa nova associação, com o propósito da convivência e do “relembrar dos tempos de Comissão”, os antigos membros de Comissões de Festas Nicolinas, dos mais variados anos. Todos tendo em comum a circunstância de terem tido a responsabilidade de organização da festa, com aproximadamente a mesma idade, e terem vivido, apesar das diferenças de anos, as mesmas experiências, os mesmos episódios, o mesmo orgulho de pertencer a esta centenária instituição vimaranense.

Importa referir que o surgimento da ACFN coincidiu com um período de maior vontade de intervenção provinda dos mais diversos pólos, tendo proliferado a criação de tertúlias, sob moldes de relativa organização, que clamavam justamente por um papel mais interventivo na festa; entre essas destaca-se naturalmente a Associação Tertúlia Nicolina que sendo uma tertúlia, ainda que constituída sob a forma associativa, tem tido igualmente um importante papel na difusão das Festas Nicolinas.

A razão da classificação como “instituições” das três acima referidas (ainda que com importâncias bastante diferentes como resulta dos textos) prende-se com a circunstância de representarem distintas vertentes da festa, e sobretudo, de serem constituídas por um número abstracto e indeterminado de pessoas. Isto é, a Irmandade representa a específica vertente religiosa, representando todos aqueles que a ela se queiram associar e que atribuam às Nicolinas essa dimensão religiosa, a ACFN representa a ainda mais específica vertente das comissões organizadoras e da sua vivência, a ela se podendo associar qualquer antigo elemento de comissões de festas, e «a Associação» representa todo o universo de nicolinos (estudantes do ensino secundário), tanto aqueles que tenham integrado as comissões como aqueles que o não tenham feito, tanto aqueles que evocam a vertente religiosa como aqueles que mais se apeguem ao paganismo, ou seja, todos os nicolinos. Mas mais uma vez, dirige-se a um público concreto, isto é, não pode ser sócio da associação quem não tenha, por exemplo, estudado em Guimarães.

E é este o conceito que perfilho de instituição, isto é, a colectividade que representa um conjunto abstracto (e não concreto) de pessoas e que se dirige a uma qualquer componente da festa, o que é aliás um conceito universal.

André Coelho Lima

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Da origem das Festas "Nicolinas" II

Continuação deste artigo.

Tradições escolásticas do culto «Nicolino» em Coimbra.

- S. Nicolau, Patrono dos estudantes de Guimarães.

Gravura da Universidade de Coimbra.

S. Nicolau, Bispo, segundo o agiológio, ressuscitara três estudantes assassinados por um estalajadeiro em terras de França. Neste prodígio de milagre está o triunfo da eleição do Santo à excelsa categoria de Patrono dos estudantes, destacando-se neste reconhecimento, primeiro que Guimarães, a Universidade de Coimbra.

De facto, compulsando os estatutos deste primeiro estabelecimento de ensino, relativos a 1589, neles se consagra o dia 6 de Dezembro, a S. Nicolau.

A exteriorização deste culto desdobrava-se em procissão, espectáculos, danças, folias.

Camões, cuja vida escolar em Coimbra decorre de 1539 a 1542 - segundo Teófilo Braga -, dá-nos conta da existência de festas e exibições teatrais em honra de S. Nicolau, no seu auto - «El-rei Seleuco».

Diz nele certo personagem: «Tu fazes já melhores argumentos que moços de estudo por dia de S. Nicolau.»

Um destes argumentos teatrais - acrescenta o autor da «História da Literatura Portuguesa» - constituía o tema de um Mistério Sacro onde se representava o milagre dos três estudantes ressuscitados por S. Nicolau, e o arranjo coreográfico de uma dança feita à glória do mesmo Santo.

Afonso Valente, troveiro, assim diz a Garcia de Resende:

«De traz de San Nicolau,
em alto graao,
vos vi eu numa alta dança,
com essa pança mui atento...»

Por tudo isto se constata: que já na primeira metade do século XVI era festejado S. Nicolau na Universidade de COimbra, como seu Patrono escolar. As representações hieráticas e as danças cénicas, de sentido dramático, constituíam uma parte do seu culto externo.

O cerimonial da procissão deixa-nos antever a sua imponência: à frente, para abrir o cortejo e afastar o povoleu, iria o meirinho com os seus archeiros armados de alabardas; depois os charmeleiros, tangendo seus instrumentos clangorosos; agora, seguia-se o corpo docente e doutoral, com suas vestes roçagantes e insígnias; a devida distância, viam-se os bedéis das várias Faculdades com suas maças de prata; em lugar de honra, como a sua alta prerrogativa ordenava, o Reitor; finalmente, os colégios dos religiosos, dos seculares, e os estudantes. Esta ordem hierárquica, este luzimento, esta pompa, não podiam deixar de exercer na imaginação dos escolares provincianos um deslumbre e desejos de imitação; - nomeadamente em Guimarães onde a nobreza tinha vínculos fortes, e, à sombra deles, alimentava com fausto os seus pergaminhos.


in A. L. de Carvalho,
O "S. Nicolau". Tradições Académicas de Guimarães.,
Liceu Martins Sarmento, 1943.

domingo, 2 de novembro de 2008

Da origem das Festas "Nicolinas"

Tradições escolásticas do culto «Nicolino» em Coimbra.
- S. Nicolau, Patrono dos estudantes de Guimarães.

O Mosteiro de Santa Marinha da Costa, em fotografia da Sociedade Martins Sarmento.

Dois centros culturais se ergueram no Passado como alfobres geradores de toda a ensinança pública em Guimarães: -a Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira e o Mosteiro dos Frades Jerónimos da Costa.

A primeira destas cátedras foi estatuída em 1291 por el-rei D. Dinis, e a segunda em 1541 por el-rei D. João III.

QUanto ao ensino da Colegiada, suas disciplinas eram: -gramática latina, cantochão, moral. Seus alunos obrigados, eram os «meninos do coro». Dos outros, em curso livre, nada se sabe.
O ensino do Mosteiro da Costa constava de latim, filosofia, teologia, humanidades. Além dos seus alunos em noviciado, havia os estudantes leigos. Fr. Diogo de Murça, seu Director, aludindo ao número dos alunos, dizia em carta dirigida a el-rei:

«... leigos avera nesta escola de cinquõeta ate sessenta.»

A-par destas cátedras havia o ensino, em regime de escola pública, nos conventos de S. Francisco e S. Domingos, onde se lia gramática e «casos de consciência».

Tal o panorama da nossa vida escolar, no ensino público, até ao século XVI. Depois, é o declínio com o encerramento da Universidade da Costa.

Muitos filhos de algo e das casas morganatas dirigem-se aos centros universitários de Coimbra e Salamanca. Outros, menos providos de recursos, por aqui se ficaram frequentando as aulas dos padres mestres, com escala pelos cursos teológicos bracarenses.

Pelo ano de 1594 é criada entre nós uma corporação religiosa denominada Irmandade de N. Sra. da Consolação, conhecida também por - Irmandade dos Estudantes Pobres.

Esta irmandade do século XVI não era mais que um culto à Virgem, -embora já traduza um pensamento de unidade corporativa, e nos traga à lembrança a existência de estudantes de épocas remotas. Documentos medievais relativos aos anos de 1328, 1332, 1333, 1335 e 1349 nos deixam visionar perfeitamente a silhoeta acarvoada do primitivo escolar de capa e batina, calção e sapato de fivela, pendendo-lhe sobre os ombros uma longa guedelha.

Com efeito, certos nomes que nos aparecem em envelhecidos pergaminhos com a rúbrica de escolares, e onde outorgam em escrituras públicas, dão-nos a certeza de que a vida académica era longa, atingia o período da barba, passando muitas vezes para além da mocidade.

Ora, foram estes escolares, esta fauna de estudantes solteirões, quem fundou entre nós, no século XVII, a Irmandade de S. Nicolau.


in A. L. de Carvalho,
O "S. Nicolau". Tradições Académicas de Guimarães.
,
Liceu Martins Sarmento, 1943.

sábado, 1 de novembro de 2008

Notícia histórica do Santo e da festa

S. Nicolau nasceu em Patara, na Lícia (Ásia Menor), no séc. III. Morreu em santidade com idade desconhecida a 6 de Dezembro da ano de 327. Foi bispo de Mira, capital da Lícia.

Durante o império de Licínio foi perseguido e desterrado, mas vencido aquele imperador por Constantino Magno, no ano de 314, e sendo dada paz à Igreja, voltou à sua diocese. Assistiu ao Concilio de Niceia onde foi condenada a heresia de Ario, da igreja de Alexandria.

Nicolau herdou de seus pais uma riquíssima fortuna que distribuiu toda pelos pobres.

Na Itália é patrono de marinheiros porque fazia o milagre de amainar as tempestades. Refere S. Boaventura que, em dada ocasião, Nicolau ressuscitou dois estudantes, os quais tinham sido assassinados numa briga. Será deste facto da sua vida que os estudantes de Guimarães o escolheram para seu protector? Sabe-se apenas que a Irmandade de S. Nicolau foi instituída há 229 anos, no dia 6 de Dezembro de 1691, na Colegiada de N. S.ª da Oliveira de Guimarães. Rezam os estatutos da mesma que só a ela podem pertencer os sacerdotes, beneficiados, letrados e e estudantes “e se algum estudante, dispois de ser Irmão, exercitar officio mecanico, a Meza que servir o riscará sem couza mais algua ser necessária”.

Cada um pagava, ao ser admitido na irmandade, 480 réis, de esmola, excepto dez irmãos leigos, que tinham entrada gratuita, e poderiam não ser sacerdotes, nem letrados, nem estudantes, mas desempenhavam o mister inferior de serventes.

O traje usado pelos Irmãos era a casaca e fita branca ao pescoço, com a respectiva medalha do Santo.

A origem da festa anual ao S. Nicolau está certamente na data da fundação da Irmandade 6 de Dezembro) e data da morte do Santo. A entrada do “pinheiro” explica-se pelo antigo uso nacional de anunciar qualquer festa erguendo um alto mastro encimado por uma bandeira.

Dizem os antigos que as “posses”, “magusto”, “cortejo das maçãs” têm o seu início no facto dos 10 irmãos leigos, atrás referidos, perceberem por ocasião da festa um antigo foro da irmandade, que constava de maçãs e castanhas. E que depois de recebido o foro, percorriam as casas da cidade e vendiam apenas as maçãs para, com o produto da venda, realizarem um magusto onde assavam as castanhas do mesmo foro.

Sobre a origem do “pregão” há um facto que talvez se possa ligar com o mesmo, que é o da leitura dos estatutos da Irmandade feito anualmente à nova Mesa no dia 5 de Dezembro e juramento solene prestado na mesma data pelos mesários eleitos; ou então a origem que lhe atribui João de Meira (“Rev. de Guimarães” - n.os 3 e 4 de 1905, pág. 161) de ser o bando uma espécie de programa da festa declamado nas ruas e praças da vila por um dos académicos festeiros.

No respeitante às “Danças” tratava-se dum folguedo com que as festas eram abrilhantadas e das quais se colhiam proventos, para cobrir as despesas feitas. No livro de Termos da Irmandade lê-se: “querendo alguém que se lhe fação comedias ou danças, e falando nisso a algum oficial da Mesa, esse o fará saber aos mais, etc...”

Nada mais se pode precisar com segurança sobre as origens desta festa tão característica, realizada anualmente pelos estudantes de Guimarães.

Na biblioteca da S. Martins Sarmento existe uma preciosa colecção de Bandos manuscritos desde 1827, oferecidos pelo falecido abade de Tagilde.

In Os Velhos, 1895-1920, Guimarães, 1920, pág. 2.

O Futuro das Nicolinas: O Estatuto Nicolino


... continuação deste artigo.

1. O Estatuto Nicolino

Esta é a vertente que considero fundamental à sobrevivência e à continuidade pujante da festa Nicolina. E é simultaneamente aquela que menos depende dos nicolinos, Novos e Velhos.

É de facto absolutamente incompreensível que o Ministério da Educação ou as suas ramificações desconcentradas como a DREN, não reconheçam um estatuto especial ao estudante que queira pertencer à comissão organizadora. É absolutamente incompreensível que exista uma série infindável de protecções e regimes especiais para tudo o que é membros de tunas, associações académicas, comissões de veteranos e comissões de praxe em todas as faculdades do nosso País e não seja dispensada uma única facilidade ao estudante que queira pertencer à Comissão de Festas Nicolinas.

Só compreensível daquela visão a que nos fomos habituando de que tudo o que não acontece em Lisboa, e às vezes no Porto, por e simplesmente não acontece. Se esta festa fosse em Lisboa, o Presidente da Comissão era uma figura do jet set, entrevistado nos telejornais antes das festas, os nicolinos saíam da Comissão directamente para actores dos “Morangos com Açúcar” e, no aqui releva, haveria toda uma panóplia de instrumentos destinados a proteger as festas e a sua comissão organizadora. Felizmente as coisas não são assim. Felizmente trocamos o jet set e os “Morangos com Açúcar” pelo rojões e papas de sarrabulho, pelos peditórios a pé e à chuva por um concelho muito mais rural do que muitos possam perceber, pelo vinho verde tinto de malga, pelas tradições, pelos lavradores e o seu já habitual desempenho do Pinheiro, enfim, por tudo o que representam as Nicolinas e as distanciam, felizmente, desse outro mundo.

Mas essa circunstância não deveria, nunca, levar a que os nossos estudantes fossem menos compreendidos, menos apoiados, menos auxiliados.

Dou vários exemplos.
Podemos reunir imensas tertúlias e mesas redondas para discutir o porquê do lento definhamento desse fantástico e único número nicolino que é o Pregão. A resposta está obviamente nas escolas. Com a pressão pelos resultados, com a maior competitividade existente nas turmas e nas escolas (embora a competir para tentarem todos tirar 20), não é espectável que os alunos, apenas por amor às Nicolinas, abandonem as aulas, tenham faltas não justificadas, faltem a testes ou aulas de preparação para testes, etc.

E este exemplo vale para o Pregão, que exige a tarde do dia 5/12, como vale para as Maçãzinhas que exige, pelo menos, a manhã (para preparar os carros) e a tarde (para o cortejo) do dia 6/12… já para não falar da noite, preenchida com as Danças de São Nicolau.

Como esperar que os alunos queiram ir às Novenas, àquela hora da madrugada?

Claro que podemos argumentar que no nosso tempo (no meu pelo menos era assim), também havia faltas, também havia testes e também havia Pregão, com mais de 100 caixas e bombos! E nós faltávamos alegremente e em elevadíssimo número para participar… mas perdemos tempo se tentarmos comparar o incomparável. Os tempos eram outros, a juventude pensava de forma diferente, éramos mais colectivistas e menos individualistas, talvez déssemos também menos importância às notas que fossemos ter, enquanto que hoje, a juventude é mais competitiva, mais feroz na perseguição do objectivo “nota”, correm atrás de algo concreto enquanto nós corríamos atrás do dia que se havia de seguir àquele.

Assim sendo, se isto é difícil na perspectiva da mera participação nos números, imagine-se só a dificuldade que não será pertencer à Comissão?

Que, desde finais de Setembro (pouco depois das aulas começarem) até 8/Dezembro, vão às aulas e têm que estudar para os testes e, em simultâneo, calcorrear o concelho em peditórios que se destinam a pagar as festas, acorrer a todos os convites de jantares ou reuniões com instituições, associações, tertúlias e entidades oficiais, participar em reunião diárias da própria comissão para preparar os peditórios do dia seguinte, fazer os balões para o Pinheiro, contratar os lavradores, escolher o Pinheiro, treinar o Pregão e escolher o Pregoeiro, arranjar meninas para as varandas nas Maçãzinhas, arranjar rapazes para participar com carros, combinar as varandas que entregarão a posse, pensar e pintar as piadas para o Pinheiro… enfim, podia ficar aqui mais tempo.

Alguém me explica como pode este rapaz, que é igual aos outros, ao fim de um dia de aulas e de longuíssimas caminhadas a pé pelo concelho em peditórios e que ainda vai ter reunião da comissão no final de jantar, alguém me explica como pode ele estudar, preparar os testes, até namorar…? Não pode, manifestamente, não pode.

Nem é humano exigi-lo. Nem aliás depois podemos pretender que os bons alunos integrem a Comissão. Como podem? Quem tiver como objectivo ser um dos melhores alunos, não pode dar-se ao luxo de desperdiçar 3 meses dum ano lectivo, nos quais não se empenhará totalmente. Claro que tem havido excepções, têm passado pela Comissão alguns bons alunos, como sucedeu com o Jorge Marques que integrou a Comissão por 2 anos, chegando mesmo a ser Presidente em 2003, mantendo-se como sendo um dos melhores da sua escola, mas estas são infelizmente as excepções.

Resulta do preâmbulo do D.L. nº 328/97 de 27/11 que regula a actividade dos dirigentes associativos juvenis, que “urge reconhecer o trabalho dos dirigentes juvenis que com prejuízo da sua vida profissional desempenham uma tarefa de solidariedade para com a comunidade.”. Tendo como pano de fundo esta directiva do legislador, importa constatar que as Festas Nicolinas são uma das festividades académicas mais antigas de que há memória a nível mundial, sendo simultaneamente uma das manifestações com mais tradição na cidade e concelho de Guimarães, o que responsabiliza de sobremaneira aqueles que devem ser os protagonistas máximos destas Festas: os estudantes e as escolas.

A Escola, enquanto elemento activo da comunidade em que se insere, deve pugnar pela defesa intransigente deste património cultural inigualável que são as Festas Nicolinas, promovendo e incentivando a participação activa e empenhada da comunidade escolar nas suas festas académicas, porquanto é no seu seio que nasce o espírito nicolino e o gosto pelas Festas. Importa que as Festas Nicolinas saiam de um mundo próprio e por vezes paralelo ao estudantil e que a comunidade académica abrace e integre estas festas, que são essencialmente suas, nelas se envolvendo de corpo e alma.

A Escola deve ser sensível, em face das crescentes exigências do ensino e do mundo competitivo dos nossos dias, ao facto de os estudantes se apartarem crescentemente das Festas Nicolinas, e sobretudo da sua comissão organizadora, por recearem que as suas perspectivas e o seu percurso escolar possam sair prejudicados. Tal facto configura uma situação intolerável, que potencialmente pode fazer com que venham a integrar a Comissão de Festas Nicolinas apenas os estudantes desprovidos dessas perspectivas, cabendo à Escola, acima de todos, pugnar por impedir que tal ocorra. É para isso decisivo manifestar particular sensibilidade pelo tempo que os estudantes, membros da Comissão de Festas, necessitam despender, tanto no período das festas como nos dois meses que o antecedem, por forma a poderem organizar as Festas Nicolinas que são de toda a comunidade académica vimaranense.

É por isso plenamente justificável que se atribuam aos membros da Comissão de Festas Nicolinas alguns direitos, atendendo a que se trata de um evento específico, que exige um empenhamento e dispêndio de tempo muito significativos por parte dos estudantes, o que deve merecer, por parte da Escola, uma abordagem que considere a especificidade muito particular desta festividade. Tratamento semelhante aliás ao que é dispensado a todas as outras festividades académicas que têm lugar no nosso país. Não visando atribuir quaisquer benefícios aos membros da Comissão de Festas Nicolinas em relação aos seus restantes colegas, mas antes garantir condições de avaliação efectivamente equitativas e justas entre estes e os seus colegas, condições que não permitam que estes elementos, que sacrificam a sua prestação escolar em prol da manutenção de uma tradição académica que é de todos, venham a ser, por esse motivo, prejudicados. Procurando ser-se justo naquela dimensão que é a de tratar igual o que é igual e diferente aquilo que é efectivamente diferente, preocupação aliás manifestada na alínea c) do artigo 123º do Regulamento Interno da Escola Secundária Martins Sarmento.

A bola está agora do lado das escolas.

Tenho conhecimento de que, no Liceu, algo está a tentar ser feito nesse sentido. Foi-me inclusivamente pedido um contributo nesta empreitada que emprestei com todo o prazer e dedicação, precisamente porque acredito firmemente que nesta questão, menos falada, está a resposta para o regresso às Nicolinas da pujança de antigamente, em todos os seus números e não apenas no Pinheiro que em bom rigor é cada vez menos “nicolino” e mais popular.


André Coelho Lima

Apresentação de um Velho

Por intermédio do Frei Clemente de Santa Maria das Dores, os distintos frades deste blog «O S. Nicolau» entenderam, por critérios que apenas eles saberão, endereçar-me um convite para contribuir com este seu projecto de divulgação das Nicolinas, com algum/alguns textos. Convite que, como verão, redundará em enormíssimo erro.

Em primeiro lugar cabe-me agradecer e manifestar a minha aceitação, não apenas por se tratar de uma oportunidade para poder expor os meus pensamentos sobre esta festa à qual tenho emprestado tanto do meu tempo e dedicação, como essencialmente, por poder contribuir para um blog que, assim que dele tive conhecimento (em 21.01.2008), tratei de elogiar por e-mail dirigido directamente ao Santo.

Elogio fundado no tratamento diferenciado que neste blog é dispensado às Festas Nicolinas: uma abordagem evoluída, académica e instruída; dizia eu, então, que este blog assumia “... um registo de investigação e uma abordagem que exalta a vertente Histórica que tanta falta faz às Nicolinas. Para as credibilizar e dimensionar a uma altura que, como evento folclórico não exclusivamente estudantil, claramente merecem e justificam. Assim saibam nelas pôr olhos alguns investigadores do nosso país, conferindo-lhes o valor que lhes é devido, assentes numa rara continuidade praticamente ininterrupta, da exaltação da juventude de um povo.”

Sou um nicolino como todos os que passaram pelo ensino secundário de Guimarães.

Integrei a Comissão de Festas Nicolinas em 1992 (com o cargo de Sub-chefe de Bombos), ano no qual fui igualmente Pregoeiro, assim que terminei o secundário dirigi-me prontamente à Torre dos Almadas para me tornar sócio da Associação dos Antigos Estudantes do Liceu de Guimarães (hoje, também, “/ Velhos Nicolinos”), em 1995 fundei, com mais 11 amigos nicolinos, a Associação de Comissões de Festas Nicolinas e já no início deste século (!) tornei-me irmão da Irmandade de São Nicolau, pelo que me encontro associado a todas as instituições nicolinas.

Proponho-me então a contribuir com dois temas que – aviso já! – poderão pecar por excesso de caracteres.

Abordarei o presente das Nicolinas, as questões actuais e as que se encontram em discussão no mundo nicolino, e o futuro das Nicolinas, ou seja, aquilo que, em minha opinião, deverá fazer parte do futuro das nossas festas, ou pelo menos o que se deverá resolver para que esse futuro possa surgir como todos o sonhamos.

Reitero os meus agradecimentos pelo convite que me endereçaram, para o qual espero apenas poder estar à altura.



André Coelho Lima

* * *

Estrutura do artigo:

FUTURO

1 – ESTATUTO DO NICOLINO
2 – ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL (ACADEMIA NICOLINA)
3 – COMPONENTE DE INVESTIGAÇÃO HISTÓRICA



PRESENTE

1 – REGISTO DA MARCA NICOLINAS
2 – COMISSÃO DE FESTAS