domingo, 2 de novembro de 2008

Da origem das Festas "Nicolinas"

Tradições escolásticas do culto «Nicolino» em Coimbra.
- S. Nicolau, Patrono dos estudantes de Guimarães.

O Mosteiro de Santa Marinha da Costa, em fotografia da Sociedade Martins Sarmento.

Dois centros culturais se ergueram no Passado como alfobres geradores de toda a ensinança pública em Guimarães: -a Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira e o Mosteiro dos Frades Jerónimos da Costa.

A primeira destas cátedras foi estatuída em 1291 por el-rei D. Dinis, e a segunda em 1541 por el-rei D. João III.

QUanto ao ensino da Colegiada, suas disciplinas eram: -gramática latina, cantochão, moral. Seus alunos obrigados, eram os «meninos do coro». Dos outros, em curso livre, nada se sabe.
O ensino do Mosteiro da Costa constava de latim, filosofia, teologia, humanidades. Além dos seus alunos em noviciado, havia os estudantes leigos. Fr. Diogo de Murça, seu Director, aludindo ao número dos alunos, dizia em carta dirigida a el-rei:

«... leigos avera nesta escola de cinquõeta ate sessenta.»

A-par destas cátedras havia o ensino, em regime de escola pública, nos conventos de S. Francisco e S. Domingos, onde se lia gramática e «casos de consciência».

Tal o panorama da nossa vida escolar, no ensino público, até ao século XVI. Depois, é o declínio com o encerramento da Universidade da Costa.

Muitos filhos de algo e das casas morganatas dirigem-se aos centros universitários de Coimbra e Salamanca. Outros, menos providos de recursos, por aqui se ficaram frequentando as aulas dos padres mestres, com escala pelos cursos teológicos bracarenses.

Pelo ano de 1594 é criada entre nós uma corporação religiosa denominada Irmandade de N. Sra. da Consolação, conhecida também por - Irmandade dos Estudantes Pobres.

Esta irmandade do século XVI não era mais que um culto à Virgem, -embora já traduza um pensamento de unidade corporativa, e nos traga à lembrança a existência de estudantes de épocas remotas. Documentos medievais relativos aos anos de 1328, 1332, 1333, 1335 e 1349 nos deixam visionar perfeitamente a silhoeta acarvoada do primitivo escolar de capa e batina, calção e sapato de fivela, pendendo-lhe sobre os ombros uma longa guedelha.

Com efeito, certos nomes que nos aparecem em envelhecidos pergaminhos com a rúbrica de escolares, e onde outorgam em escrituras públicas, dão-nos a certeza de que a vida académica era longa, atingia o período da barba, passando muitas vezes para além da mocidade.

Ora, foram estes escolares, esta fauna de estudantes solteirões, quem fundou entre nós, no século XVII, a Irmandade de S. Nicolau.


in A. L. de Carvalho,
O "S. Nicolau". Tradições Académicas de Guimarães.
,
Liceu Martins Sarmento, 1943.

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