sábado, 1 de novembro de 2008

Notícia histórica do Santo e da festa

S. Nicolau nasceu em Patara, na Lícia (Ásia Menor), no séc. III. Morreu em santidade com idade desconhecida a 6 de Dezembro da ano de 327. Foi bispo de Mira, capital da Lícia.

Durante o império de Licínio foi perseguido e desterrado, mas vencido aquele imperador por Constantino Magno, no ano de 314, e sendo dada paz à Igreja, voltou à sua diocese. Assistiu ao Concilio de Niceia onde foi condenada a heresia de Ario, da igreja de Alexandria.

Nicolau herdou de seus pais uma riquíssima fortuna que distribuiu toda pelos pobres.

Na Itália é patrono de marinheiros porque fazia o milagre de amainar as tempestades. Refere S. Boaventura que, em dada ocasião, Nicolau ressuscitou dois estudantes, os quais tinham sido assassinados numa briga. Será deste facto da sua vida que os estudantes de Guimarães o escolheram para seu protector? Sabe-se apenas que a Irmandade de S. Nicolau foi instituída há 229 anos, no dia 6 de Dezembro de 1691, na Colegiada de N. S.ª da Oliveira de Guimarães. Rezam os estatutos da mesma que só a ela podem pertencer os sacerdotes, beneficiados, letrados e e estudantes “e se algum estudante, dispois de ser Irmão, exercitar officio mecanico, a Meza que servir o riscará sem couza mais algua ser necessária”.

Cada um pagava, ao ser admitido na irmandade, 480 réis, de esmola, excepto dez irmãos leigos, que tinham entrada gratuita, e poderiam não ser sacerdotes, nem letrados, nem estudantes, mas desempenhavam o mister inferior de serventes.

O traje usado pelos Irmãos era a casaca e fita branca ao pescoço, com a respectiva medalha do Santo.

A origem da festa anual ao S. Nicolau está certamente na data da fundação da Irmandade 6 de Dezembro) e data da morte do Santo. A entrada do “pinheiro” explica-se pelo antigo uso nacional de anunciar qualquer festa erguendo um alto mastro encimado por uma bandeira.

Dizem os antigos que as “posses”, “magusto”, “cortejo das maçãs” têm o seu início no facto dos 10 irmãos leigos, atrás referidos, perceberem por ocasião da festa um antigo foro da irmandade, que constava de maçãs e castanhas. E que depois de recebido o foro, percorriam as casas da cidade e vendiam apenas as maçãs para, com o produto da venda, realizarem um magusto onde assavam as castanhas do mesmo foro.

Sobre a origem do “pregão” há um facto que talvez se possa ligar com o mesmo, que é o da leitura dos estatutos da Irmandade feito anualmente à nova Mesa no dia 5 de Dezembro e juramento solene prestado na mesma data pelos mesários eleitos; ou então a origem que lhe atribui João de Meira (“Rev. de Guimarães” - n.os 3 e 4 de 1905, pág. 161) de ser o bando uma espécie de programa da festa declamado nas ruas e praças da vila por um dos académicos festeiros.

No respeitante às “Danças” tratava-se dum folguedo com que as festas eram abrilhantadas e das quais se colhiam proventos, para cobrir as despesas feitas. No livro de Termos da Irmandade lê-se: “querendo alguém que se lhe fação comedias ou danças, e falando nisso a algum oficial da Mesa, esse o fará saber aos mais, etc...”

Nada mais se pode precisar com segurança sobre as origens desta festa tão característica, realizada anualmente pelos estudantes de Guimarães.

Na biblioteca da S. Martins Sarmento existe uma preciosa colecção de Bandos manuscritos desde 1827, oferecidos pelo falecido abade de Tagilde.

In Os Velhos, 1895-1920, Guimarães, 1920, pág. 2.

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