terça-feira, 4 de novembro de 2008

O Futuro das Nicolinas: Organização Institucional


... continuação deste artigo.


A. A realidade institucional


As Festas Nicolinas têm um problema institucional por resolver e que necessita de resolução formal imediata. Problema causado não pela quantidade de instituições que sobre elas intervêm, mas essencialmente, por um impedimento jurídico que esbarra num legado Histórico.

Mas antes disso, convém perceber qual a realidade institucional das Nicolinas, previamente a se poder saber que passos podem ou devem ser dados em seguida.

O início material das Festas Nicolinas (o documentalmente demonstrável) situa-se no sec. XVII essencialmente devido a dois actos ditos fundadores das Nicolinas, ambos atribuídos à sua mais antiga instituição: a Irmandade de São Nicolau. Esses dois actos são a construção da Capela de São Nicolau (1664) e a publicação dos estatutos da Irmandade de São Nicolau (1691). Claro está que muitos, entre os quais me incluo, defendem que a circunstância de a Capela ter sido construída em 1664 demonstra inequivocamente a existência de um culto festivo académico bem anterior à data em que a capela pôde ser inaugurada, de tal modo que essa celebração se veio a materializar na construção do primeiro monumento nicolino, naquele distante ano de 1664.

No entanto, no que a esta conversa interessa, estávamos no domínio da mais antiga de todas as instituições nicolinas, estávamos perante o início formal das Festas Nicolinas onde sobressai a sua vertente religiosa (muito cara aos contribuintes deste blogue). Por isso a Irmandade de São Nicolau, muito embora a sua actividade actual se circunscreva à organização da missa anual em honra ao Santo (no domingo mais próximo do dia de São Nicolau – 6 de Dezembro) tem nos seus ombros a responsabilidade fundadora das Festas Nicolinas. Muito embora subsista hoje, quase exclusivamente, como a guardiã da vertente religiosa das festas.

Já em meados do século passado (1961), fundou-se a Associação dos Antigos Estudantes do Liceu de Guimarães.


Apesar da sua designação alusiva a uma “mera” associação de antigos alunos, facto é que «a Associação» desde o seu início que se constituiu, quase exclusivamente, em torno e por causa das Festas Nicolinas. Entre os seus fundadores estiveram os fortes impulsionadores da “restauração” da festa nicolina em 1895, que desde essa data foram responsáveis pela continuidade do festejo, tendo, apenas em 1961, formalizado a constituição de uma instituição, que é justo dizê-lo, já existia ainda que desmaterializada, desde 1895. Essa é a principal importância da «Associação», independentemente da data da sua efectiva fundação, a ela e aos seus membros fundadores se deve o ressurgimento das Festas Nicolinas após 12 anos de paragem, bem como a sua continuação nos moldes tradicionais desde então até aos nossos dias.

Como dizia o ilustre vimaranense António Faria Martins em texto que pode ser lido no sítio da «Associação» (www.aaelg-velhosnicolinos.net), “E assim chegamos ao ano de 1960 e, com ele, à última obrigação. Foi então que alguém se lembrou de propor na ceia desse ano a criação duma colectividade com personalidade jurídica, que congregasse todos os antigos alunos do nosso velho Liceu. Aprovada a proposta, logo se nomeou comissão para proceder às necessárias diligências que concretizassem uma ideia que andava no subconsciente de todos: A Associação dos Antigos Estudantes do Liceu de Guimarães, que viu os seus Estatutos aprovados por despacho ministerial de 17 de Julho de 1961. “O que não foi” criou corpo porque alma já a tinha. E há muito!”.

Hoje em dia assumiu a mais completa e mais correcta designação de Associação dos Antigos Estudantes do Liceu de Guimarães / Velhos Nicolinos.

Por último e em finais do século passado, em 1995, foi criada a Associação de Comissões de Festas Nicolinas, que surgiu na sequência de uma nova realidade que ia ganhando corpo nas últimas décadas do sec.XX, a particular e até em certos termos “secreta” vivência da Comissão de Festas Nicolinas e o crescer da sua importância na efectiva organização dos festejos.

Foi essa nova vivência da Comissão de Festas, mais participada, que fez com que se sentisse a necessidade de agregar numa nova associação, com o propósito da convivência e do “relembrar dos tempos de Comissão”, os antigos membros de Comissões de Festas Nicolinas, dos mais variados anos. Todos tendo em comum a circunstância de terem tido a responsabilidade de organização da festa, com aproximadamente a mesma idade, e terem vivido, apesar das diferenças de anos, as mesmas experiências, os mesmos episódios, o mesmo orgulho de pertencer a esta centenária instituição vimaranense.

Importa referir que o surgimento da ACFN coincidiu com um período de maior vontade de intervenção provinda dos mais diversos pólos, tendo proliferado a criação de tertúlias, sob moldes de relativa organização, que clamavam justamente por um papel mais interventivo na festa; entre essas destaca-se naturalmente a Associação Tertúlia Nicolina que sendo uma tertúlia, ainda que constituída sob a forma associativa, tem tido igualmente um importante papel na difusão das Festas Nicolinas.

A razão da classificação como “instituições” das três acima referidas (ainda que com importâncias bastante diferentes como resulta dos textos) prende-se com a circunstância de representarem distintas vertentes da festa, e sobretudo, de serem constituídas por um número abstracto e indeterminado de pessoas. Isto é, a Irmandade representa a específica vertente religiosa, representando todos aqueles que a ela se queiram associar e que atribuam às Nicolinas essa dimensão religiosa, a ACFN representa a ainda mais específica vertente das comissões organizadoras e da sua vivência, a ela se podendo associar qualquer antigo elemento de comissões de festas, e «a Associação» representa todo o universo de nicolinos (estudantes do ensino secundário), tanto aqueles que tenham integrado as comissões como aqueles que o não tenham feito, tanto aqueles que evocam a vertente religiosa como aqueles que mais se apeguem ao paganismo, ou seja, todos os nicolinos. Mas mais uma vez, dirige-se a um público concreto, isto é, não pode ser sócio da associação quem não tenha, por exemplo, estudado em Guimarães.

E é este o conceito que perfilho de instituição, isto é, a colectividade que representa um conjunto abstracto (e não concreto) de pessoas e que se dirige a uma qualquer componente da festa, o que é aliás um conceito universal.

André Coelho Lima

5 comentários:

Anônimo disse...

Gostei de ler. Mas continuo sem perceber as razões do ar um tanto ou quanto rarefeito e mesmo algo mal-cheiroso, quase irrespirável, portanto, que se pressente sempre que se juntam à mesma mesa algumas das entidades nicolinas de que nos fala. Alguém me explica?

S. Nicolau disse...

Mistérios insondáveis, Frei António, esses que aqui nos traz.

Enfim, rezemos por mais esta intenção...


Frei Clemente.

André Coelho Lima disse...

Naturalmente que não poderei esclarecer as dúvidas do Frei António, até pela circunstância de não serem verdadeiramente dúvidas.
Ainda por não perceber a que "entidades" se poderia estar a referir e ainda por não me caber a mim, nesse caso, responder pelas mesmas.

A não ser, claro, que se pudesse estar a referir à banheira que existia na Torre dos Almadas, que servia para as "tradicionais" aulas práticas de iniciação à Marinha e artes marítimas diversas, frequentadas pelos membros de sucessivas Comissões...

Anônimo disse...

Não me estava a referir propriamente nem a banheira, nem a polibã, nem sequer a bidé. Referia-me às frequentes picardias trocadas (umas vezes proclamadas, outras vezes não mais que murmuradas) entre os afectos às diferentes associações e tertúlias que se colocam sob a insígnia nicolina. Basta ouvir uns e outros, para ver que, em vez de vinho verde tinto, devem andar a emborcar algumas malgas de fel. Digo-o eu, que vejo de longe e, nesta matéria, sou abstémio.

Anônimo disse...

Mistério da Fé (Nicolina)