terça-feira, 6 de novembro de 2007

Efemérides Académicas (1)

João Lopes de Faria, pelo Pintor Maltieira.

Ao longo de várias décadas, João Lopes de Faria, organista da Senhora da Oliveira, coligiu e transcreveu documentação sobre a história de Guimarães. Ao mesmo tempo, reuniu as suas “Efemérides Vimaranenses”, um monumental repositório de acontecimentos relacionados com Guimarães, distribuídos pelos 366 dias do ano, actualmente guardado na Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento. Iremos dar início à publicação, neste espaço, das efemérides referentes às escolas, aos estudantes de Guimarães e às suas tradições.

12 de Abril de 1385: El-rei D. João I, querendo agradecer a frei Afonso de Guimarães que, sendo já doutor ou lente no convento de Coimbra, assistiu à sua aclamação, aprovando com sua autoridade este gravíssimo acto, escreve ao seu almoxarife do Porto ordenando-lhe "que lhe deis e pagueis em cada um ano dezoito aldas de pano para se vestir, qual for pertencente para o seu estado". Alda era uma medida de comprimento aproximada da vara, e que nesta época servia para medir panos. Frei Afonso de Guimarães ouviu as primeiras letras nas escolas públicas do seu convento de S. Francisco de Guimarães em que se lia gramática e casos de consciência. - Hist. Serph. por Fr. Manuel da Esperança, livº 1, cap. 53, pág. 70 e livº 2, pág. 413. - "Mais de duas centúrias (se lê na obra citada) de anos tivemos escolas públicas, nas quais se lia gramática e casos de consciência, sem ordenado, estipêndio ou prémio, senão só o proveito dos discípulos. Eram as aulas nesse tempo, neste terceiro convento, numas casas com porta para o adro, em que hoje se vê a enfermaria, etc." Idem.

25 de Fevereiro de 1512: Tem esta data a seguinte representação:"Senhor, os juízes vereadores da vila de Guimarães, beijamos as mãos de vossa alteza. O padre mestre João de Chaves nos fez uma fala em que entre outras coisas propôs que, considerando ele pelo experimento que tinha desta terra de Entre-Douro-e-Minho, quanta ignorância havia nela habitantes que eram mais ardentes no amor de Deus e instruídos nas coisas da fé, que se mostrou pelos muitos edifícios de casas de religião e multidões de igrejas que nela há em muito maior número e quantidade que em nenhuma parte dos reinos, e a causa principal era a ignorância das ciências e virtudes que por elas se adquiriam que era nas pessoas da religião e eclesiásticas e dissoluto viver deles que era e é em tanta maneira que parece coisa miraculosa como se sustêm vivendo em tanta cegueira o que tudo irá representar a vossa alteza e lhe apontará alguns remédios para se extirpar e reduzir a verdadeiro viver entre as quais fora procurar-se plantar nela pessoas cientes e virtuosas e fazer colégios e escolas onde se lesse e aprendessem as ciências e modos de servir e conhecer e acatar a Deus Nosso Senhor e movido vossa alteza por serviço de quem vos pôs em tão alto estado, nos prouvera se fazer um colégio em nossos reinos onde a ele dito mestre João parecesse e ainda dele nos mostrar nosso alvará e mercê que para isso fazia, o qual cuidado sobre o caso como quem tem tanta sede de trazer almas ao verdadeiro conhecimento de Deus, e lhes ensinar a gançar o pera que foram criadas assentou considerando tudo o que se deixa em tal caso este colégio se fazer nesta vila, uma das nobres de vossos reinos e procurou e procura com muita justança se pôr em obra como de facto já se fez e alguma ajuda para isso, com madeiras e outras coisas, porém por a pobreza da terra não pomos abastantes para muito e por ele consideramos e praticamos com Diogo Lopes de Lima Alcaide mor desta como o ouvidor do duque e Nosso Senhor que são pessoas que têm bom respeito a honra dela e achamos que sem sentir muito poderíamos por esta via dar algum adjutório a saber: lançarmos imposição na carne em cada arrátel mais um ceitil e pereceu bem e porque não queríamos o fazer sem autoridade e mandado de vossa alteza e porém lhe suplicamos e pedimos lhe apraza dar a isso sua autoridade e nos conceder esta mercê por dois ou três anos ou o tempo que houver por bem. Também, Senhor, fazemos saber a sua alteza que El-rei D. João o II que Deus tem, por fazer mercê a esta vila que lho pediu, lhe fez mercê da igreja de Murça para um pregador que pregasse nesta igreja de Nª Sª desta vila e ora o prior e cabido dela dão doze mil reais ao mosteiro que nos dá aqui pregador e o mais corrente em seu uso e porque ela rende muito mais e foi dotada para somente o pregador e é coisa que vem bem a este colégio, pedimos por mercê a vossa alteza lhe apraza a renda desta igreja se dar e atribuir para uma cátedra de teologia no dito colégio com a obrigação que o que a reger seja obrigado a pregar continuadamente na dita igreja, assim como ora faz o mestre. Receberemos infinda mercê ou, se vossa alteza houver por melhor lançar-se no vinho porque já temos para o concelho uma meia canada, lança-se outra meia e ser uma canada por almude, em qualquer maneira que o houver por bem nos fará infinda mercê. Deus Nosso senhor prospere seu real estado e acrescente a vida pela qual sempre, e mui edificadamente, rogaremos. De Guimarães a 25 dias de Feveriro de 1512. Diogo Lopes de Lima. Bartolomeu Afonso. Afonso... Estêvão Gonçalves. Pero Alvarez Dalmada, o ouvidor Fernão da Mesquita.( ..) sobrescrito a El-rei nosso senhor". Corpo Cronológico, parte 1ª, doc. 16.

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