sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Nicolinas e Estudantes II

Muitos defendem que as festas em honra de S. Nicolau terão tido origem no colégio que existiu no século XVI no Mosteiro de Santa Marinha, na Costa. Novamente, sou céptico em relação a essa hipótese.

Os argumentos que normalmente surgem para a defender vão no sentido de Frei Diogo de Murça, o clérigo que veio dirigir o dito colégio, trouxe consigo para esta vila o culto a S. Nicolau, importado das terras longínquas por onde passou na sua formação. A criação desse estabelecimento de ensino dá-se em Penha-Longa em 1535 e dois anos depois é transferido para o mosteiro que os frades jerónimos mantinham nos arrabaldes da vila de Guimarães.

Frei Diogo regressara em 1533 dos seus estudos na Universidade de Lovaina, na Flandres, doutor em Teologia. Por lá privara com vários discípulos de Erasmo de Roterdão (que também nessa universidade leccionou, sendo ainda vivo quando Fr. Diogo lá esteve), tomando contacto com muitas das brilhantes mentes do Renascimento do norte da Europa.

Nicolau Clenardo, humanista flamengo, também formado em Lovaina, vindo para Portugal a convite de D. João III para por aqui transmitir o seu saber, deixou-nos algumas das palavras mais claras sobre o colégio da Costa, quando cá se dirigiu para conhecer o muito promissor Infante D. Duarte. Após um rasgado elogio a Fr. Diogo, fala-nos dos lentes: “Tem ele no mosteiro três lentes, todos portugueses. Conheceis já o Bordalo: este ensina ética logo depois do almoço e a física antes do meio dia; outro ensina a dialética; e o terceiro, sob cujas bandeiras milita um filho del-rei, de quatorze anos de idade, a retórica. Assisti às lições de todos eles, e quiseram-me parecer bastante desempoeirados no seu assunto”.

O quotidiano no colégio era duro, sendo muito rígido o horário de estudos e de oração, que ocupava todo o dia dos estudantes. Dá-se, no entanto, o curioso facto de, em 1542, pouco mais de um décimo dos alunos que frequentavam aquele estabelecimento de ensino serem monges. No ano seguinte, o falecimento precoce do príncipe D. Duarte termina com a principal fonte de rendimento do colégio, e isso, associado à falta de alunos em determinadas áreas, leva à sua extinção, ou melhor, à transferência do colégio para Coimbra. Tal deu-se em 1544, com a ida de D. Diogo de Murça, que lá veio a fundar o colégio de S. Bento, tido como a continuação deste que houvera em Guimarães.

Nada do que sabemos – pelo menos do que eu sei – da vida do colégio, leva a crer que o culto a S. Nicolau aqui tivesse sido instituído. Ainda que esse culto estivesse bastante difundido pela Europa e que fosse muito comum junto da comunidade universitária, não conheço referências à existência da sua prática por aqui. É possível, no entanto, que as tenha havido, que ias ideias Nicolinas tenham ficado impregnadas, com as humanistas, na mente daqueles que estudaram neste colégio. Mas resta a dúvida de como terão passado de tão rígido estabelecimento para a vila, e nela se enraizado. Julgo ser nesta suposição que se fundam aqueles que defendem a ideia de que as Nicolinas aqui tiveram origem. Eu fico-me pela posição mais segura da não certeza.



Frei Clemente de Santa Maria das Dores

3 comentários:

S. Nicolau disse...

Caso o Egresso António do Sacrifício pelo Divino Sustento tenha algo a opor a esta ideia, por favor conteste-me. Apesar de egresso, julgo que o Santo Ofício ainda não o apanhou, pelo que contacto não é para já sacrilégio.

Já quanto a Frei Bento do Amor Divino Pelo Pecado Original, parece-me andar tão absorto nas suas meditações que nem aparece no refeitório para cear, tampouco às matinas para orar. O Abade anda a ficar descontente com tal comportamento, caro irmão...

Ou então... anda à coca da aguadeira. Não! Ai de mim pensar tal coisa de tão pio irmão!


Frei Clemente das Dores

Anônimo disse...

Reverendíssimo Frei Clemente das Dores,

Não perdereis resposta, nem sequer pela demora. Quanto à origem das festas, bem avisados andais em adoptar a dúvida metódica. A mim também não me cheira que seja tradição nascida na Costa. Eu aposto em algo mais cá do litoral.

Quanto à Inquisição, não tenho nenhumas contas a ajustar, podeis descansar. Se saí do convento, não foi sem autorização dos meus iluminados superiores.

O Egresso António do Sacrifício pelo Divino Sustento

Anônimo disse...

Caros irmãos,

Eu sou um apologista da Costa..Quanto as origens pouco posso dizer por, para já, não ter encotrado sustento para o meu pensamento...
Tenho andado muito ocupado com as rezas e com os sacrificios a que me obriga a religião em que professo mas brevemente irei descer à Terra...

Frei Bento do Amor Divino