segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Uma irmandade para estudantes pobres

Nossa Senhora da Consolação, do respectivo Santuário, em Turim.

Por vezes fala-se numa escola da Colegiada como originária da tradição Nicolina em Guimarães. Procurando pela mesma, a primeira vez que encontro referências a algo que se possa assemelhar a uma escola na Colegiada é no século XVI, pelos mesmo anos em que se criou o colégio da Costa. E, curiosamente, a primeira referência encontrada sobre o assunto chama a atenção ao mestre-escola (já referido num outro artigo anterior) para o cumprimento das suas funções. Parte fundamental dessas funções era o ensinamento do cântico. Aliás, se o propósito de uma Colegiada era dar mais dignidade ao culto, tal passava, à época, sem dúvida alguma, pela boa execução dos cânticos. Isso parece ter sido bastante negligenciado por quem tinha essas funções a seu cargo, se formos a ver as advertências que a Colegiada teve do arcebispo…

No entanto, vamos tendo algumas referências de estudantes desta vila de Guimarães que pretendiam aqui prestar certo culto.

Vemos que, em 1594, os estudantes pobres (reforce-se, pois é importante termos este facto em consideração para melhor se interpretar o caso) pedem “pera louvor de Deos e serviço da senhora” que lhes deixem lá instalar uma Irmandade. De referir que vem reforçado por diversas vezes em diferentes documentos que a confraria se encontra instalada na capela “aonde o sagrado colegio da dita villa vai faser ho officio ao domingo de Ramos”. A irmandade sempre se criou no final desse ano, sendo a primeira conhecida dos estudantes de Guimarães.

Sobre a capela de Nossa Senhora da Consolação, diz-nos o Abade de Tagilde que foi criada no século XVI por um cavaleiro fidalgo, Balthazar Fernandes Sodré. O mesmo acrescenta que a “13 de Dezembro de 1594 se estabeleceu uma confraria de estudantes pobres que tomou a seu cargo o culto e a fábrica desta capela” (Abade de Tagilde, Guimarães e Santa Maria).

É curioso constatar que esta Nossa Senhora da Consolação era muito cultuada pela Ordem de Santo Agostinho, Ordem a que pertenceu o mosteiro de Santa Marinha da Costa até à primeira metade do século XVI.

Meio século mais tarde, em 1646, vemos refeitos os estatutos da mesma Irmandade, e deles desaparecidas as referências aos estudantes pobres que a criaram. Estamos em crer que daí se pode inferir que os estudantes dela se apartaram, talvez já na mira de um outro culto que estava a ganhar forma em Guimarães: o culto a S. Nicolau.

Assim sendo, concordo com o egresso António do Sacrifício pelo Divino Sustento. Na minha perspectiva de amateur, terá sido algures por esta altura que terão nascido as festas em honra do Senhor S. Nicolau. Aguardo agora por alguém que me contradiga.


Frei Clemente de Santa Maria das Dores

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